Eleições 2026: corrida para o Senado promete muitas emoções.
Com Helder franco favorito, caso seja candidato, disputa pela segunda vaga deve ser a mais acirrada das últimas décadas.

Autor de vasta obra, criador da UnB e dos CIEPs, quando perguntado sobre a Casa que representa os estados nacionais no sistema bicameral local, o antropólogo Darcy Ribeiro se saiu com a seguinte constatação:
“O Senado brasileiro é como o céu. Com uma vantagem: não é preciso morrer para estar dentro dele.”
Ribeiro foi eleito senador em 1990. Ficou no Senado até morrer no início de 1997, quando perdeu a estóica batalha que travou contra a metástase de um impenitente tumor que levou o autor de “O povo brasileiro - A formação e o sentido do Brasil”, obra-prima de uma vida dedicada a estudar os brasileiros e o nosso país.
Naquela altura, o inquieto e irreverente senador se referia não somente às prerrogativas constitucionais, mas, particularmente, às quase infinitas mordomias a que ele e os seus pares tinham (e permanecem tendo) direito.
Entre eles, plano de saúde vitalício pago pelo distinto público, melhor da região, digo, do Brasil, (enormes) apartamentos funcionais, dezenas de assessores e outras centenas de funcionários da Casa.
Hoje em dia, um quarto de século após a sua morte, aos direitos das suas excelências se integraram as polêmicas emendas parlamentares impositivas, responsáveis por adicionar mais um epíteto ao paquidérmico presidencialismo nacional, “semi-presidencialismo”, e menos poder aos ora ocupantes do Palácio do Planalto.
2026 já começou
Em terras paraoaras, analisados os resultados das eleições para a “Câmara Alta” desde 1986, a que mais se assemelhou àquela primeira com duas vagas em disputa via sufrágio universal após 1964, em matéria de vitória completa, foi a de 2018.
Todavia, há sete anos, quando o candidato de oposição Helder Barbalho saiu vitorioso ao lado do pai, Jader, e do aliado de undécima hora, Zequinha Marinho, todos concorriam como oposicionistas, ainda que este último fosse o vice-governador do estado.
Este fato torna a dupla vitória diferente, na medida em que o governador em 1986, Jader Barbalho, não fora candidato e os dois vencedores faziam parte da chapa situacionista, tanto o surpreendente mais votado Almir Gabriel quanto o poderoso e prestigiado nacionalmente Jarbas Passarinho, que de favorito ficou com a segunda maior votação.
Em 2018, Zequinha Marinho ostentava uma legião de votos fiéis da comunidade evangélica, a mesma que no próximo ano deve despejar-lhe novamente, no mínimo, centenas de milhares de votos, vez que seja candidato ao cargo.
Vice, Senado, bônus e ônus
Sonho de consumo de dezenas de políticos aliados de Lula em 2010, a vaga de vice-presidente dada a Michel Temer naquele ano na chapa com o poste Dilma, pelo andar da carruagem, deve ser inversamente disputada nas eleições que se avizinham.
Ampla e majoritariamente rejeitado atualmente pelo eleitorado em todas as pesquisas - das amigas de sempre às novidades do mercado -, humilhado pelos partidos do Centrão no Congresso, desprezado por parte expressiva dos até outro dia fiéis eleitores nordestinos, às vésperas de completar 80 anos, cada dia falando mais absurdos e chefe de um governo sem marca, apelo ou algo auspicioso e novo, Lula, por falta de opção, ruma para, caso seja recandidato, reeditar a chapa com o ex-tucano e neossocialista Geraldo Alckmin.
Por mais governistas, lulistas e os que os valham que gravitam em sua órbita, custa crer que Helder Barbalho se empolgue e embarque nesse rabo de foguete.
E não são poucas as razões, sendo duas delas o fogo amigo que sempre se avizinha nessas disputas e indicações e o corpo mole até de petistas e emedebistas nacionais, digamos, mais "pragmáticos" e menos aliados.
Jader e JF
Dito isso, custa crer - ainda que possível -, que o veterano Jader Barbalho aceite ir para casa vestir o pijama.
Mais provável encarar uma dobradinha com o primogênito rumo à Câmara Federal, posto que o atual ministro das Cidades é dos poucos auxiliares do primeiro escalão que entrega algo ao governo velho de ideias e soluções de Lula e do PT.
Sobre a divisão de cadeiras, diz-se pelos corredores dos palácios e parlamentos que a matriarca Elcione, em sétimo mandato como deputada federal, abriria mão para o filho e miraria uma cadeira na Alepa.
Presidente
E por falar na Casa do Povo, seu presidente, o deputado Chicão, tentando emular as vitoriosas campanhas de 1986 e 2018, trabalha para ser o companheiro de chapa do governador.
Mas aí mora o perigo, posto que a esta segunda vaga, além do pastor Zequinha, outras águias miram voos altos e estão de olho nela.
Chicão, não custa lembrar, ainda que soe paradoxal, quase se complica no episódio em que foi árbitro no início deste ano quando o governo sofreu um desgaste considerado estéril a partir de uma cizânia entre um projeto de lei, a Seduc e tribos indígenas.
Favorita de Helder
Do bônus que seria o acordo viabilizado por si, não fosse a volúpia de aloprados em defesa da sua pré-candidatura ao executivo estadual em detrimento da ungida de Helder, Hanna Ghassan, o tri presidente da Alepa recebeu como resposta a aposta dobrada na vice pelo chefe de ambos, que saiu por aí com ela debaixo do braço fazendo com que áulicos e voluntaristas associados no condomínio governista entendessem, afinal, que sim, será no dedaço a indicação da candidata à sucessão estadual. E ela tem nome, sobrenome e padrinho público.
Preterido
Aliás, segredo de polichinelo não é, mas ainda faltam detalhes ao distinto público sobre as razões que fundamentaram a troca do posto de vice na chapa pura emedebista de 2022, na medida em que “todos” dormiram com a impressão de que o vice seria o próprio Chicão e acordaram com a indicação de Hanna por quem manda de fato no grupo.
O deputado tem exemplos de sucesso e fracasso em seu horizonte. Luís Otávio Campos, “o senador do governador”, em 1998 e Mário Couto oito anos depois.
E fracassos, como Márcio Miranda, que diziam ter uma vaga garantida à Câmara Alta em 2018 e acabara derrotado após escolher disputar o governo contra Helder, apesar do apoio de Simão Jatene.
Mais recentemente, outro ex-presidente da augusta casa e político veterano, o quadriprefeito de Ananindeua, Manoel Pioneiro, foi mais um que viu o sonho de virar senador tornar-se um humilhante pesadelo após pífia votação e sinais de abandono pelo meio do caminho.
E por falar em abandono, Mário Couto, sem mandato desde fevereiro de 2015, é um caso à parte de resiliência e recall.
O neobolsonarista, que chegou na convenção de 2018 candidato e saiu debandado, mostrou em 2022 que, apesar da derrota, continua vivo e na memória do eleitor, sobretudo do interior.
E é aí, no campo do bolsonarismo ou da direita, que surgem mais pedras no caminho de Chicão.
3 x 2
Se nas disputas pela vaga única entre 1990 e 2022 saíra vencedor o candidato associado ao governador vitorioso (1990, 1998 e 2022), em outras duas pelejas, 2006 e 2014, fora vitorioso o senador da chapa majoritária perdedora.
Já no caso de duas vagas em disputa entre 1986 e 2018, tal qual será em 2026, terminaram eleitos um de centro (ou direita) e outro de esquerda (ou centro-esquerda), no caso Almir Gabriel (1986), Ademir Andrade (1994) e Ana Júlia Carepa (2002).
Exceção à regra foi em 2010, quando foram eleitos Jader e Flexa Ribeiro, ambos políticos de centro.
Com o surgimento nacional pós Lava-Jato e Petrolão de Jair Bolsonaro nas eleições de 2018, pode-se afirmar que o prestígio de Helder carregou Jader, os votos evangélicos (e de Helder e do pai) elegeram Zequinha e Flexa Ribeiro bateu na trave.
Celso, Éder e Passarinho
O ministro do Turismo Celso Sabino diz que topa entrar na briga. Seu partido e o Centrão o apoiam. Sabino, como Jader Filho, está na seleta cota dos atuais ministros bem avaliados.
Éder Mauro, que dizem, só pensa nisso, conta com o apoio não só de Bolsonaro, mas dos filhos, da esposa Michele e de Valdemar Costa Neto, o dono do PL, agremiação com a maior fatia no bolo bilionário dos fundos partidário e eleitoral.
Para completar, se Éder abrir mão, o deputado federal Joaquim, sobrinho do saudoso Jarbas Passarinho, também já deixou claro que, se o cavalo passar selado, ele monta.
E em Brasília e no bolsonarismo ele também conta com o apoio e a simpatia da família do ex-presidente, do PL e dos militares. Afinal, tem pedigree na área.
Simão Jatene
Algoz, antípoda, desafeto, quiçá inimigo de Helder, Simão Jatene, a esfinge e ex-governador três vezes eleito democraticamente para o cargo, que está novamente elegível desde 01 de janeiro de 2023, surge como um fantasma a assombrar muita gente.
Com o estilo conhecido de quem milita na vida pública, na militância política e no jornalismo do setor, o ex-tucano que dizem ser neobolsonarista pode entrar e atrapalhar ainda mais o sonho de quem almeja a segunda vaga na chapa governista (no caso o presidente da Alepa) e em outras de oposição.
Jatene tem recall e, desde 2014, votação própria. Ele, que de técnico e auxiliar, tornara-se protagonista a partir de 2002.
Naquela eleição o “Cavanhaque” se elegeu com 85% dos votos do padrinho Almir Gabriel e 15% divididos entre antipetistas e jaderistas.
Oito anos depois, em 2010, ele foi eleito pela segunda vez com cerca de 1/3 dos próprios votos, 1/3 dos eleitores emedebistas e o outro terço com os votos antipetistas.
Quatro anos depois, após virar uma eleição perdida do 1º para o 2º turno, finalmente ele se elegera com os próprios votos.
Jatene é um fantasma que assusta não somente Chicão, mas Zequinha, Couto, Éder (com quem pode compor) e outros mais.
Como se vê, com a barca petista indo célere para o fundo de qualquer um entre a plêiade de rios que afluem em torno do colossal Amazonas, na hipótese de Helder querer ocupar o gabinete que ora tem como inquilino o próprio pai, a briga, ops, disputa pelo Senado da República, a Casa cujo patrono é Rui Barbosa e que no final do império tinha como setorista o maior escritor da história brasileira, Machado de Assis, promete grandes emoções.
Ou como diria o polêmico e sensacional Galvão Bueno, será “teste para cardíaco”. E até lá, “haja coração”.
Todos têm grandes desafios pela frente. Afinal, como se diz, eleição e mineração só depois da apuração.
PS1: Em 2 de julho, O Amazônico, um bebê, completa dois anos. Para você, estimado leitor, e você, cara leitora, entregamos hoje, ainda em fase experimental, o nosso amazônico 2.0.
PS2: Aproveitem, pois, tal qual o primeiro, este site foi pensado e entregue com todo o respeito e deferência. Avante!
PS3: Atualmente, a esquerda paraense jaz sem chance alguma de eleger alguém para o Senado da República nas eleições que se avizinham.