Do descuido, nasce a virada!

Texto escrito por Albano Martins
“Dia desses recebi uma mensagem da Syanne Neno me perguntando se eu poderia escrever algo sobre a atual fase do Paysandu. Lá vinha ela novamente tratar de futebol, mania que ela tem desde menina, e que escorre do coração (bicolor) em textos encantadores, dotados de contagiante verdade.
Poucos escrevem sobre futebol como a Syanne, espécie de Armando Nogueira paraoara de saia e de salto alto.
Ela é craque de bola, ainda que seja daquela bola que rola no papel, antes ou depois da que rola no gramado, ajudando a fazer do futebol um bálsamo redentor, unguento analgésico, mistura de fé e esperança, muito indicado pra ajudar a gente a não prestar atenção nas feiuras do mundo.
Eu respondi que poderia sim, só não entendi muito bem o tema – a atual fase do Paysandu. Ora Syanne, não me leve a mal, mas quem entende de fase é eletricista; eu só entendo de ser Paysandu, e para quem é Paysandu o que menos importa é a fase.
Não se ama ou desama o Paysandu conforme as circunstâncias, não se sorri ou se chora pelo Paysandu ao sabor de ciclos ou etapas, conjunturas ou contextos.
Não há fases em ser Paysandu. É-se Paysandu e pouco mais importa, de modo absoluto, incondicionalmente, sem restrições, em caráter irrevogável e irretratável, quaisquer que sejam os resultados das batalhas, sempre épicas, oníricas e sanguíneas, sempre questão de vida ou morte.
Pensei em perguntar para a Syanne se o texto poderia deixar de lado essa história de fase, isso é coisa desimportante. Acabei não perguntando, mas acho que ela não vai se aborrecer - Syanne é Paysandu, sabe bem a resposta.
Ser Paysandu é deleite sem explicação, dádiva que se experimenta na dor e no prazer, na alegria e na tristeza, na derrota e na vitória.
Ser Paysandu escapa da ciência, desconsidera a lógica, ignora a álgebra; está nas searas do sobrenatural, experiência mística de enlevação da alma e celebração da esperança. Ser Paysandu alimenta.
Sete vidas eu tivesse, sete vezes seria Paysandu.
Coisa mais sem graça deve ser torcer pra quem sempre ganha, um desses Real Madri da vida por exemplo. Temo que leve à soberba, conduza à vaidade, afaste do mundo real. Somos feitos das nossas dores, mais divertido e salutar, portanto, é o gozo da vitória sofrida que vem depois da imerecida derrota.
E além disso, esta tal fase é tão ínsita ao futebol quanto a bola. Quem não lembra das fases obscuras do Fluminense, por exemplo, outrora margeando a Série D e hoje jogando o Mundial de Clubes; quem não lembra dos tropeços da Itália, tetracampeã mundial alijada das duas últimas Copas do Mundo por insucesso nas classificatórias.
Dito isso, louve-se o Paysandu e dane-se a fase, sobretudo se for ruim. Quem é Paysandu não liga pra isso, tem mais com que se preocupar. Melhor pensar que nessa coisa de fase, razão assiste ao Nelson Ned e ao Mário Quintana - em sendo fase, tudo passa, tudo passará; as fases passarão, o Paysandu passarinho.(Nesse exato instante, como se fora por deslumbramento, enquanto eu encerrava o texto e revisava ortografia e gramática, tarde da noite desta sexta-feira, 13 de junho, Leandro Vilela desfazia o feitiço, incendiava a Curuzu e espantava pra longe o malfadado assunto da Syane. Qual fênix mitológica, o lobo ergueu-se das cinzas e voltou a uivar alto e aterrorizante na hileia amazônica. Agora o céu é o limite...
acesso, título, Tóquio... quem sabe...
Delírio, dirão alguns, mas esses não importam, nada significam... ser Paysandu é ser das utopias, como o Quintana que já citei: “Se as coisas são inatingíveis...ora! Não é motivo para não querê-las... Que tristes os caminhos, se não fora a mágica presença das estrelas..”
(Albano Martins)