Pablo Marçal é boçal e pode ser do mal. Antes tido como favorito, o perigo de Guilherme Boulos é que suas ideias saiam do papel.
E ainda: o mal que embustes da natureza do “coach” fazem à direita democrática.

“Coach”, na tradução
literal do inglês para o português é “treinador”. Se optar pela interpretação
da linguagem do futebolês, também pode chamar de técnico, algo como um “mister” tal o excepcional Jorge Jesus.
Os coachs que têm se celebrizado após o advento das redes sociais merecem o sucesso que alcançam. Fato.
Mas esse tal de Pablo Marçal e seu passado de crimes, mistérios e penumbras, frequenta outra zona cinzenta no presente onde seus gestos demonstram pontificarem boçalidade, truculência, falta de modos e urbanidade.
Ao desrespeitar as regras dos debates nos quais confirma presença, Marçal apresenta algo ainda mais perturbador e assustador: um ódio no olhar durante os ataques de cólera, como o que desferiu contra Ricardo Nunes e foi flagrado pelas câmeras no encontro promovido pela RedeTV! e Portal UOL na terça-feira, 17 de setembro.
O histrionismo e este olhar do sujeito remetem a lembrança de figuras tétricas que um dia encontraram guarida na política e sobre as quais não convém sequer lembrar seus nomes e sobrenomes, tamanho o estrago humanitário e civilizatório que promoveram.
Condenado e prescrito
Olhar que nos lembra sua condenação como membro de uma quadrilha que
praticava crimes financeiros contra, entre outros inocentes, idosos. Sua parte
no esquema era descobrir como fraudar as contas e roubar o dinheiro das
vítimas.
Crime pelo qual chegou a ser preso e acabou solto e impune com a prescrição da penalidade. É este o sujeito que quer e pode ser eleito prefeito da cidade mais importante da América Latina.
Picareta reincidente
Todo mundo sabe que esse partideco nanico e legenda de aluguel ao qual o
infame Marçal concorre a prefeito, o tal de PRTB, é um coletivo de vagabundos
com honradíssimas exceções, como o senador, ex-vice-presidente e ex-filiado,
general de exército Hamilton Mourão.
Áudio captado e transcrito na matéria da Folha de S. Paulo, de 08 de agosto último, revelou que o presidente da agremiação, o nacional Pedro Avalanche, confirmando a tese de que nome é destino, se jacta que ajudou a soltar o traficante André do Rap, ao tempo em que afirma que “Piauí”, acusado de ser chefe do PCC na favela Paraisópolis, é seu motorista.
Instado a se pronunciar sobre a matéria, Pedro Avalanche disse ao jornal que não reconhecia sua própria voz no áudio ou tampouco a veracidade da gravação.
Truculento
Cara e gestual de ator canastrão de filme mexicano, Pablo Marçal é um
fenômeno complexo e implica reconhecer que sua entrada na eleição paulista
mudou totalmente as previsões sobre o seu desfecho e as peças no tabuleiro em
que os adversários tradicionais prepararam suas estratégias para a conquista
dos eleitores. Ponto.
Todavia, Marçal e sua boçalidade atestam o fosso em que a crença na democracia está metida, sobretudo a partir da segunda década do século XXI pelo Ocidente afora.
Para essa grei, ser bem-sucedido profissionalmente, possuir discurso anti-sistema, portar-se como outsider e imitar personagens que vão de Donald Trump e Jair Bolsonaro a Viktor Orbán e tutti quanti que encarnam perfil semelhante na Europa, Américas e etc, e pressupõe achar-se uma entidade que paira acima do bem e do mal e comporta-se como se fosse.
Aliás, dentre esses, o argentino Javier MIlei é disparado o menos pior deles. Na verdade, é um cumpridor de promessas e tem lutado para assegurar ao menos as mais palatáveis reformas ao seu país no âmbito do ideário genuíno liberal-econômico.
Esnobada de Bukele
Outra das referências de Pablo Marçal na política é o
presidente salvadorenho Nayib Bukele, com quem o filisteu afirmou que se
encontraria, bateu asas até lá e voltou com uma das suas versões farsescas para
mais este embuste.
Na verdade, com uma mão na frente, outra atrás e as câmeras com as quais filmaria o encontro que não houve, sem nenhuma imagem sequer de ambos juntos.
A direita farsante
A miséria da direita democrática no Brasil pós 1964-1985, o período
militar, que desde o banimento de Carlos Lacerda e a morte de Luís Eduardo
Magalhães inexistia no Bananão, foi acometida de uma chaga fruto da Lava Jato,
ainda que sem nenhuma responsabilidade da operação.
Hoje, no abismo em que se encontra o país quando o assunto é a polarização, ver a palavra “direita” de volta ao debate político nacional por meio desse tipo de personagem é um desserviço ao movimento raiz que preza pela democracia representativa, louva o estado de direito e o respeito às instituições públicas, pilares do regime.
A cadeirada
Outro que se mostrou um boçal foi o apresentador José Luiz Datena,
emérito vai não vai e fujão das pelejas políticas nas últimas décadas. Por mais
asqueroso e infame que seja o sujeito Marçal, o seu desequilíbrio anunciou que
sua saída do páreo menor do que entrou é merecedora da sua descompostura.
Boulos nem pensar
Se,
pelo que já se sabe e sobre o que ainda não foi desbaratado, Pablo Marçal pode
representar algo longe do que se precisa e deseja em um líder, por tudo que já
se tem notícia há mais de uma década sobre Guilherme Boulos, também aí repousa
alguém de quem os paulistanos devem querer distância. Este um é outro sectário
e despreparado do qual São Paulo merece se livrar para sempre.
Ricardo Nunes
Um político provinciano, “incolor, insípido e inodoro”, como diria Hélio
Fernandes, desponta como favorito num segundo turno contra os dois candidatos
radicais, Marçal e Boulos. Longe de ser auspiciosa, sua vitória representa algo
tipo dano menor ou menos mal para a cidade.
Tábata e Kim
A jovem e promissora Tábata Amaral merece e, decerto, terá novas
chances, estando praticamente fora da briga por uma vaga na final.
Uma lástima a conspiração local do União Brasil contra a candidatura de outro quadro promissor na política nacional, o também jovem deputado federal Kim Kataguiri, este sim, um representante raiz da direita democrática brasileira.