Febre do bebê reborn gera debate nas redes sociais e acende o alerta sobre saúde mental

18/05/2025 12:00
Febre do bebê reborn gera debate nas redes sociais e acende o alerta sobre saúde mental

Paulo Silber

Alguma coisa está fora da ordem, no Brasil. Há décadas, estamos assistindo à queda sucessiva dos nascimentos de crianças, enquanto cresce vertiginosamente a população de cães, gatos, pássaros e peixes de estimação, os chamados pets. Acredite: já existem quatro vezes mais pets do que meninos e meninas nos lares do país. Se esse dado já impressiona, o que dizer da febre de bebês reborn, que está em alta, contagiando milhares de homens e mulheres, como mostram as redes sociais.

Os bebês reborn são bonecas hiper-realistas criadas de forma artesanal para se parecer com recém-nascidos. Há quem, mesmo sendo adulto, goste de brincar com essas bonecas para passar o tempo. Há casos em que os brinquedos, que podem custar mais de R$ 3 mil, têm um objetivo terapêutico e ajudam na superação de traumas. Mas não dá para fechar os olhos: há também quem não esteja se curando, mas na verdade vem adoecendo por causa dessa mania. O debate está aberto e merece atenção.

Veja só. O número de nascimentos de meninos e meninas no Brasil caiu pelo quinto ano consecutivo, segundo o IBGE. Em 2025, a população de crianças até 12 anos é estimada em 41,6 milhões de crianças. Infelizmente, 70 mil delas vivem em situação de rua, de acordo com a ONG Visão Mundial. 

Já o número de animais domésticos do País é quatro vezes maior que o de crianças. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação, são 60 milhões de cães, 40 milhões de aves, 30 milhões de gatos e 20 milhões de peixes ornamentais. Nunca fez tanto sentido o Rock da Cachorra, sucesso lançado há mais de 40 anos, com todo deboche possível, por Léo Jaime e Eduardo Dusek.

Troque seu cachorro

Por uma criança pobre

Sem parente, sem carinho

Sem rango, sem cobre

Agora, com a onda reborn, será que crianças de verdade e bichos de estimação tendem a ser deixados de lado? No Rio de Janeiro, os vereadores até aprovaram uma data dedicada ao fenômeno, o "Dia da Cegonha Reborn", em homenagem às artesãs que criam bonecas, mas que, graças ao frisson sobre o tema, também está sendo chamado de Dia da Criança Reborn, proposto para 4 de setembro.

A psicóloga clínica Larissa Fonseca, citada em matéria da CNN, adverte que a mania reborn, dependendo do caso, pode fazer mal à saúde. “A vida adulta pode ter pausas lúdicas, desde que ela não se torne uma fuga da realidade”, avisou. Mas a “adoção” de bonecas não para de crescer. O padre Fábio de Melo entrou na onda. A modelo Nicole Bahls tem duas. A arte imita a vida: no filme “Uma família feliz”, com Grazi Massafera e Reynaldo Gianecchini, a protagonista tem uma oficina de bebês reborn. No Instagram, o relato de uma advogada parece ficção, mas não é, e já alcançou mais de 3 milhões de visualizações. Ela foi procurada por uma “mãe” de reborn para representá-la em uma disputa de casal pela guarda da boneca.

Na Assembleia Legislativa do Pará, o deputado estadual Rogério Barra (PL), preocupado com a febre e suas consequências ao erário, já propôs um projeto que proíbe o uso de serviços públicos para atendimento a “bebês” reborn. O projeto prevê multa de até dez vezes o valor do serviço indevido para quem descumprir a lei, caso seja aprovada.

Diz a proposta: “Ficam proibidos os atendimentos, consultas, procedimentos ou registros destinados a 'bebê reborn' ou a quaisquer outros objetos inanimados em órgãos e serviços vinculados ao Estado”. O termo “objeto inanimado” se refere a qualquer item “que não possui, nem jamais possuiu, atividade biológica própria ou condição de ser vivo”.

Talvez Dusek, hoje com 71 anos e enfrentando Mal de Parkinson, possa inspirar um compositor da nova geração a criar o Rock do Reborn. Quem sabe isso nos estimule a continuar fazendo bebês... como nossos pais.


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